Muito se tem falado sobre as dimensões econômicas e políticas da crise do coronavírus. No entanto, como essa pandemia, que surpreendeu a todos, tem afetado a subjetividade e a saúde mental das pessoas?
Repentinamente, tivemos de interromper todas nossas rotinas. Os hábitos já naturalizados de sair de casa, tomar o transporte, ir trabalhar, encontrar familiares e amigos, viajar já não são mais possíveis. Coisas que fazíamos de forma automática.
De forma súbita, perdemos o controle de nossas próprias agendas e vontades, na verdade não temos nenhum controle, só cuidados, isso nos gera angústia, principalmente porque não temos registro de isolamento forçado.
Em nome da coletividade e da saúde pública, tivemos de adotar o isolamento social como medida protetiva.
Mas o que significa ser privado, de uma só vez, dos laços sociais e dos costumes há tanto tempo cultivados? Como reinventar, dentro de casa, novas formas de passar o tempo, de trabalhar, de se relacionar com outras pessoas? Como aproveitar todo esse tempo de ócio que outrora tanto desejávamos?
É evidente que a tecnologia, com a internet e suas redes sociais, garantam a conexão para grande parcela da população brasileira. Não se está mais sozinho mesmo preso dentro de casa.
Somos bombardeados a todo momento com notícias de crescimento do contágio e de mortes, que possamos compartilhar palavras de otimismo e de fé, para quantos conseguirmos.
Não se fica impassível diante de uma tragédia de tal magnitude, mas o que isso quer nos mostrar? É uma das mais marcantes experiências das nossas gerações.
Ela nos impõe a necessidade de lidar com a nossa impotência. Ela nos escancara nossa natureza humana e limitada. Ela nos força a enxergar nossa falta de controle sobre nosso próprio destino. Diante de tanta insegurança e imprevisibilidade, o cuidado com a saúde mental é urgente.
Busquem organizar uma nova rotina de trabalho dentro de casa, conversem constantemente com família e amigos, aproveite a enorme quantidade de entretenimento disponível nas mais diversas plataformas, curta os momentos de lazer e coloque limites para o uso do celular e das notícias.
Estamos diante de uma crise passageira, mas que deixará marcas profundas na forma como lidamos com nós mesmos e com os outros. O importante é estarmos inteiros e prontos para retomar as vidas assim que esse momento passar, podemos sair maiores e melhores dele.
Ivone Honório Quinalha – Psicóloga e Psicanalista – Especialista em psicanálise com crianças pelo Instituto Sedes Sapientaie.