A infância e a adolescência são um período determinante para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social do ser humano. Nesse cenário, a música e a dança se revelam como ferramentas poderosas de estímulo e transformação, especialmente quando acessadas desde cedo. E em comunidades carentes, essas expressões artísticas podem representar muito mais: acesso à cidadania, valorização da autoestima e criação de vínculos saudáveis com o mundo.
Neste artigo, exploramos os impactos positivos da música e da dança na vida das crianças e discutimos porque essas atividades devem ser incentivadas em programas sociais e escolas. Continue a leitura!
A música e a dança no desenvolvimento emocional e psicológico
A psicologia reconhece a arte como um canal legítimo de expressão emocional. Muitas vezes, a criança ou o adolescente ainda não conseguem nomear ou elaborar o que sentem, mas podem encontrar, no corpo e no som, formas seguras de se comunicar. A dança e a música facilitam essa expressão de maneira lúdica, criativa e prazerosa.
Segundo o neurocientista Daniel Levitin, autor do livro “A Música no Seu Cérebro”, ouvir e praticar música ativa áreas ligadas à memória, à emoção e ao sistema de recompensa. Isso significa que o envolvimento com atividades musicais pode gerar sensações de prazer, pertencimento e bem-estar, essenciais para a saúde mental.
Além disso, as práticas artísticas ajudam no desenvolvimento da autorregulação emocional. Crianças que participam de aulas de dança e música aprendem, aos poucos, a lidar com frustrações, a persistir diante de dificuldades e a expressar suas emoções de forma adequada. Elas também experimentam a alegria do progresso, do reconhecimento e da superação, o que fortalece a autoestima.
Em contextos de pobreza e violência, em que muitas crianças vivenciam traumas, negligência ou insegurança constante, o acesso a esses espaços pode ser uma importante forma de proteção psíquica. As aulas de arte tornam-se territórios seguros, estruturados e afetuosos, nos quais a criança pode brincar, criar e se conectar consigo mesma e com o outro.
Benefícios psicopedagógicos: corpo, mente e aprendizagem
A psicopedagogia entende o aprendizado como um processo que envolve muito mais do que a cognição. O corpo, os afetos e as relações sociais também participam da construção do conhecimento, e é justamente aí que a música e a dança atuam com grande potência.
Na prática musical, a criança exercita sua atenção, memória auditiva, ritmo, escuta ativa e coordenação motora. Já a dança trabalha equilíbrio, noção espacial, lateralidade, expressão corporal e consciência do próprio corpo. Todos esses aspectos são fundamentais para o desempenho escolar e para o desenvolvimento global da criança.
Além disso, essas atividades favorecem a disciplina, o senso de responsabilidade e o respeito às regras e ao outro, habilidades essenciais tanto para a escola quanto para a vida em sociedade. Ensaiar uma coreografia ou tocar em grupo exige paciência, colaboração e escuta mútua.
Outro ponto importante é o estímulo à criatividade. Crianças que dançam e fazem música se tornam mais flexíveis mentalmente, aprendem a resolver problemas de forma criativa e se sentem mais confiantes para explorar o mundo. Essa liberdade de criação favorece também o aprendizado em outras áreas, como a linguagem, a matemática e a comunicação.
Cultura, identidade e impacto social
A arte também tem um papel cultural fundamental: ela expressa e preserva a identidade de um povo. Ao promover o acesso à dança e à música, projetos sociais em comunidades ajudam a valorizar saberes locais, fortalecer o sentimento de pertencimento e gerar orgulho pela própria história.
Além disso, essas atividades criam oportunidades. Muitas crianças que participam de projetos de dança ou música descobrem talentos, constroem novos sonhos e vislumbram possibilidades de futuro que antes pareciam distantes. Há relatos de jovens que se tornaram professores, bailarinos, músicos ou educadores sociais depois de terem sido atendidos por projetos comunitários.
Do ponto de vista social, a arte também cumpre uma função preventiva. Ao oferecer alternativas saudáveis de convivência, expressão e lazer, programas que envolvem música e dança afastam crianças e adolescentes de contextos de risco, como a exposição à violência, ao trabalho infantil ou ao uso de substâncias psicoativas.
Vale lembrar que o acesso à arte e à cultura é um direito garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Promover esse direito é garantir que todas as crianças tenham a chance de desenvolver seu potencial humano, emocional e social em plenitude.
Arte que transforma
A música e a dança são muito mais do que atividades recreativas. Elas são pontes entre o sentir, o pensar e o agir. São espaços de construção de vínculos, de autoconhecimento e de cidadania. Em especial para crianças em situação de vulnerabilidade, essas práticas representam acolhimento, dignidade e futuro.
Por isso, iniciativas que promovem o acesso à arte nas periferias, como o Instituto Cuida de Mim, nos centros comunitários e nas escolas públicas devem ser valorizadas e apoiadas. Elas não apenas ensinam passos e notas, mas também moldam vidas com mais empatia, consciência e possibilidades.
Afinal, quando uma criança dança ou canta, ela está, ao mesmo tempo, brincando, aprendendo, se expressando, se desenvolvendo e se sentindo parte de algo maior. E isso é transformador.