Olhando pro céu, vi andorinhas num vôo brincalhão.
Pensei cá comigo: – O que parecem?
Crianças voando com alegria e liberdade.
Olhei novamente pro céu.
Elas voavam formando um palco de dança no ar.
Quando de repente uma voz quase apagada me chamou.
– Me dá uma esmola?
Despenquei do céu e caí no real.
Lembrei que morava no Brasil.
Uma figura magra, pequena e triste me pedia:
– Me dá uma esmola?
Eu a olhava e via Portinari na minha frente com sua obra – Os Retirantes – tão atual!
E aquela criança, uma figura de fome, descaso e tristeza, insistia, puxando minhas vestes e reclamando:
– Me dá uma esmola, anda, me dá!
E em fração de segundos eu estava com a cabeça rodando a mil e não dava esmola a ela porque não era esmola que eu queria dar.
Ela merecia voar como as andorinhas, brincar de festa no ar e não despencar num poço fundo, sem saída.
Políticos sedentos de poder deixaram só lama ao pisar. E o escuro do poço estreito e frio, sem janela, pro Sol entrar.
Não é esmola que eu quero dar. É muito mais, mais que tudo aquilo que lhe cabe por direito, pra que voe na festa do ar.
É saúde, educação e cultura pra que você, criança, receba da Pátria o abraço merecido.
Extraído do Livro : Projeto Ação – Integração – O prazer de aprender, de autoria de Selma Clara Alaga – Pedagoga, Arte-ducadora, Palestrista, Pintora, Desenhista e Poetisa.
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Fui sua aluna no colégio Paulo Setúbal